03 a 05 de Setembro 2024
Distrito Anhembi | SP

Tecnologia como aliada da segurança pública

Construir cidades inteligentes e mais seguras requer, além de planejamento, investimento. Nesse sentido, investir em tecnologia é crucial, pois ela pode ser uma forte aliada para tornar o trabalho dos agentes de segurança pública mais ágil e assertivo.  

Conforme estudos no ramo avançam, surgem cada vez mais soluções tecnológicas que auxiliam em diversas áreas. A integração do mundo físico com o digital evolui a passos largos e torna cada vez mais fácil encontrar soluções eficientes, e com menos esforço. 

Por isso, o investimento em tecnologia pode trazer resultados positivos e benefícios a longo prazo. Assim, a relação custo-benefício se torna mais vantajosa.

Conheça algumas tecnologias que podem ser aliadas da segurança pública:

Tecnologia de vigilância por reconhecimento facial

Alguns smartphones já utilizam essa tecnologia para desbloquear a tela e demais recursos. Na China, ela vem sendo utilizada na segurança pública, também. Câmeras de monitoramento com reconhecimento facial facilitam a identificação de criminosos, principalmente os reincidentes. 

Nos Estados Unidos, por sua vez, a tecnologia vem sendo testada em aeroportos. O objetivo é identificar criminosos e pessoas que tentam entrar no país com o visto vencido, por exemplo. 

Já no Brasil, a cidade do Rio de Janeiro realizou um teste durante o carnaval de 2019, em Copacabana. A ideia era identificar pessoas com mandados de prisão emitidos e verificar placas de veículos, para conferir se eram roubados. O experimento resultou em 4 prisões

Além disso, em Salvador, o mesmo sistema auxiliou na identificação de um criminoso foragido da polícia, também durante o carnaval.

Inteligência artificial na segurança pública

O projeto Mães da Sé, em parceria com a Microsoft e a Mult-Connect, desenvolveu um aplicativo chamado Family Faces. O app utiliza inteligência artificial para auxiliar na busca por pessoas desaparecidas

A ONG cedeu aos desenvolvedores do sistema um banco de dados com mais de 10 mil fotos de pessoas desaparecidas. Portanto, se o usuário suspeitar estar diante de um desaparecido, basta usar o scanner de imagem. 

Além disso, a tecnologia do app consegue realizar reconhecimento facial mesmo que as pessoas tenham envelhecido e mudado de aparência ao longo do tempo. 

O interessante é que ele pode ser um aliado não só dos agentes de segurança pública, mas da população em geral. Isso se deve ao fato de que é possível baixar o aplicativo gratuitamente em celulares com sistema Android ou iOS. Para isso, basta acessar as lojas Google Play ou App Store

Sistema de Detecção de Disparos de Armas de Fogo

O SDD ou ShotSpotter é uma tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos. O sistema foi um dos principais responsáveis pela redução dos índices de criminalidade em diversas cidades, como Nova York, por exemplo. 

O sistema se trata de um conjunto de sensores de áudio instalado em áreas urbanas de maneira camuflada. Assim, é possível captar o som de disparos de arma de fogo. A polícia local recebe um alerta quando algum sinal é captado e pode agir com mais rapidez. 

Além disso, eles são capazes de identificar o calibre das armas e os pontos de disparos com uma margem de erro de dez metros. 

Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul chegaram a implantar o SDD. No entanto, abandonaram o sistema, apesar dos bons resultados que ele trouxe. Na cidade de Canoas (RS), por exemplo, os homicídios caíram 41% após a instalação dele. 

Na época, os governantes de ambos os estados apresentaram como justificativa da desativação o aumento do dólar e dificuldade financeira.

O ShotSpotter é um exemplo de forte aliado, porém, ainda é um investimento caro. Foto: Marília Castelli (Unsplash)

Por que ainda há pouca adesão à tecnologia na segurança pública brasileira?

Mesmo com todos os benefícios, ainda há uma certa resistência ao uso de sistemas tecnológicos mais modernos dentro da segurança pública no país. Alguns dos motivos para isso são: 

  • A necessidade de um banco de dados bem alimentado para que sistemas funcionem plenamente. No entanto, o Brasil ainda é um país com baixo investimento em armazenamento de dados; 
  • O setor público leva mais tempo e enfrenta mais burocracia no processo de compra de novas tecnologias; 
  • Os sistemas recém adquiridos exigem treinamento das equipes, o que despende recurso financeiro. 

Leia também: Ex-agente do FBI James Gagliano faz um levantamento sobre a segurança mundial atualmente

Uso de tecnologia na segurança pública exige transparência

Além dos motivos citados acima, existe, também, a preocupação com a transparência na divulgação de resultados advindos do uso dessas tecnologias. Em contrapartida, há a preocupação com a proteção dos dados de cidadãos.

Robert Muggah, cofundador do Instituto Igarapé, argumenta que, nesse sentido, a comunicação se torna essencial. “É fundamental que as autoridades públicas desenvolvam uma forte estratégia de comunicação quando adotarem novas plataformas tecnológicas”, explica.

Além disso, ele aponta a necessidade de consultar a população antes da compra de sistemas e tornar as informações coletadas acessíveis aos civis. Assim, a relação de confiança e troca entre poder público e cidadãos se fortalece. “Quanto mais dados são disponibilizados, mais os próprios cidadãos podem também desenvolver maneiras inteligentes de usá-los para promover benefícios públicos”, argumenta.